Surpreendeu a muitos que o Papa Francisco celebrasse a Missa no dia 11 de setembro de 2013, na Capela Santa Marta com a presença de Dom Gerhard Muller, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e o seu amigo o sacerdote peruano Gustavo Gutierrez, fundador da Teologia da Libertação.

Para alguns a Teologia da Libertação beira a heresia, é uma corrente teológica refém da ideologia marxista e inocente útil do comunismo. No entanto não é assim que a vê a Igreja. As duas instruções sucessivas e complementares da Congregação da Doutrina da Fé, redigidas pelo então Prefeito o Cardeal Ratzinger, apontam para desvios ou riscos de desvios, mas de maneira alguma dá uma sentença condenatória a esta corrente teológica, que como se pode analisar tem várias nuanças e tendências e sem dúvida muitas contribuições, que o próprio Cardeal Ratzinger reconhece na segunda instrução Libertatis Conscientia como são nomeadamente: a denuncia da idolatria, a opção preferencial pelos pobres, a articulação da teologia com a evangelização encarnada dos pobres e a sua libertação, a ligação da evangelização com a promoção humana integral e a luta pela justiça, fazendo acontecer estruturas mais plenamente humanas.

O Documento de Puebla recolheu a reflexão e a produção mais integrada das Igrejas Particulares da América Latina, fortalecendo e dinamizando uma pastoral libertadora alicerçada no eixo comunhão e participação, o resgate da cultura e religiosidade popular e seu potencial evangelizador, a denuncia das ideologias idolátricas do capital e do estado, como a da segurança nacional.

A teologia da libertação gerou também uma antropologia, uma filosofia e uma ética, focalizando a alteridade do ser humano, a analética face a dialética nos relacionamentos sociais e culturais, o amor agápico ou fraternura, a política e a economia de comunhão, termos e conceitos do pensador Enrique Dussel. O Papa João Paulo II afirmou que uma verdadeira Teologia da Libertação não só era possível quanto necessária.

E como vimos o Papa Bento XVI nomeou o atual Prefeito da Congregação da Fé Dom Gerhard Muller que conheceu in loco no meio dos índios e camponeses a vivência e a prática da Teologia da Libertação testemunhada com autenticidade pelo seu amigo o Pe. Gustavo Gutierrez. Deus seja louvado!

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)