Assim se fecha o ciclo do ano litúrgico e toda a comunidade é chamada a refletir - antes de começado o tempo do Advento e a preparação para o Natal – sobre a identidade e missão desses homens e mulheres – os cristãos leigos - que formam a imensa maioria do Povo de Deus e são a esperança da Igreja.
O documento de conclusões da Conferência de Santo Domingo, de 1992, assinado por todos os bispos da América Latina e do Caribe faz uma afirmação central que demarca o futuro não só dos cristãos leigos, mas também da Igreja à qual os mesmos pertencem.
Afirma claramente no seu n. 97 que : "As urgências do momento presente na América Latina e no Caribe reclamam: que todos os leigos sejam protagonistas da nova evangelização,da promoção humana e da cultura cristã."
Mais adiante, é ainda o mesmo documento de conclusões que proclama, ao definir os leigos como linha pastoral prioritária: "...uma linha prioritária de nossa pastoral , fruto desta IV Conferência,há de ser a de uma Igreja na qual os fiéis cristãos leigos sejam protagonistas.
" O compromisso que toda a Igreja da América Latina toma no sentido de uma nova evangelização no entender do documento,só poderá ser levado a bom termo com a formação de um laicato bem estruturado com uma formação permanente,maduro e comprometido . A nova evangelização, segundo os bispos reunidos em Santo Domingo,só poderá ser levada efetiva e seriamente a cabo "se os leigos,conscientes de seu batismo,responderem ao chamado de Cristo a que se convertam em protagonistas da nova evangelização".
Parece claro portanto que a Igreja da América Latina tenciona investir com entusiasmo e força na formação deste laicato, que constitui a grande maioria de seus membros. E para que isso aconteça está disposta a colocar os meios, assumindo-os como linha pastoral prioritária, confiando-lhes ministérios e serviços dentro do corpo eclesial e promovendo-os constantemente.
Além disso, está disposta a reconhecer as lacunas e falhas que possam ter havido na formação destes mesmos leigos ao longo dos tempos. Fala-se claramente no documento em "leigos nem sempre adequadamente acompanhados pelos Pastores", "deficiente formação", etc. Ao mesmo tempo se afirma que "os fiéis leigos comprometidos manifestam uma sentida necessidade de formação e de espiritualidade"; " os pastores procurarão os meios adequados que favoreçam aos leigos uma autêntica experiência de Deus" . Coloca-se como linha pastoral principal "incentivar uma formação integral,gradual e permanente dos leigos".
Todas estas constatações não se originam, no entanto, do oportunismo de uma instituição que se assusta com a queda de nível da formação de seus quadros nem com a possível diminuição quantitativa de seus efetivos. Originam-se, sim, ao invés, de uma constatação de base que não provém da lógica humana, mas é apenas assimilada por revelação do próprio Deus: a de que todo o povo de Deus recebe do Senhor mesmo o chamado à santidade.
A formação do laicato, portanto, tem sido uma preocupação constante da Igreja do continente e mesmo do mundo inteiro, no sentido de poder oferecer ao mundo cristãos leigos, adequadamente preparados para responder aos desafios da sociedade e do momento atual.
Neste sentido, são numerosos os Centros de formação que começam a crescer, se desenvolver e espalhar-se pelo país e pelo continente, colocando à disposição dos leigos, possibilidade de retiros espirituais e outras experiências de crescimento na fé e na vida do Espírito; cursos de teologia onde possam aprender mais profundamente as verdades de sua fé; cursos de formação política, onde possam unir e fecundar mutuamente fé e cidadania, espiritualidade e política, aprendendo e refletindo juntos sobre a maneira transformadora de agir sobre a realidade.
Assim, a Igreja vai poder adquirir sempre mais o rosto plural e rico que desde os primórdios do Cristianismo vem constituindo o sonho de Jesus Cristo.
Na festa de Cristo Rei o leigo é chamado uma vez mais a assumir uma identidade que é a sua: uma identidade crística. E isto vai significar, cada vez mais, recriar hoje e sempre a história de Jesus de Nazaré, de forma inovadora e adequada à personalidade de cada um, à cultura e aos tempos.
Sendo, portanto, um batizado, o leigo não é nem nunca foi nem será cidadão de segunda categoria na Igreja, consumidor apenas dos bens espirituais e eclesiais. Mas cidadão pleno, participante ativo, depositário de um ministério que o faz atuar com e como Cristo.
Neste Domingo de Cristo Rei, quando a Igreja do Brasil celebra o Dia do Leigo, todos os batizados são chamados a renovar seu compromisso batismal. Assim estarão proclamando que Jesus Cristo é o Rei do Universo e se dispondo a recriar suas atitudes e seus gestos, amando com um coração semelhante ao seu.
Por: Maria Clara Lucchetti Bingemer