"E disse-lhes novamente : 'Não temais, pequeno rebanho (Lc 12, 32),
mas tende confiança no Senhor. E não digais entre vós : 
'Somos ignorantes e iletrados, como pregaremos?'. Mas lembrai-vos 
das palavras do Senhor, que falou aos seus discípulos,
dizendo: Pois não sois vós que falareis, mas o Espírito de vosso Pai
é que falará em vós (Mt 10,20). Pois o próprio Senhor vos dará
o Espírito e a sabedoria'"

In Fontes Franciscanas




Discernimento, eis a questão! É do que mais se precisa, num tempo de tanta complexidade e confusão. 

Há quase 50 anos (08.12.1965), se encerrava um Concílio Ecumênico, cuja importância maior tinha sido, justamente, diante dos “sinais dos tempos”, discernir o que o Espírito estava dizendo às Igrejas... 

Durante algum tempo, as Igrejas se puseram à escuta e procuraram dar as respostas que o momento do mundo exigia. 

Na América Latina, particularmente Medellín/1968 e Puebla/1969, foram momentos expressivos de leitura da nossa realidade de “injustiça institucionalizada” e de respostas consequentes e ousadas aos desafios do Continente. Mas não durou tanto tempo este fervor de mudança, de conversão, de busca sincera de resposta aos desafios da História, aos apelos de Deus.Começando pelas mais altas cúpulas, de cima a baixo, como diz o povo, “se voltou à vaca fria”, à mesmice de um clericalismo imbecilizante, e de um devocionismo “festivo”, alienado, quando não, comercialmente manipulado. 

O advento de FRANCISCO tem sido uma dessas irrupções espetaculares do Espírito, na História. De repente, qual suave e forte ventania, o Espírito passa desinstalando e sacodindo o mofo, e “acorda pra JESUS!” muita gente acomodada ou alienada. Mais uma vez, quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir pode regozijar-se com o cumprimento da profecia: “Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará a toda a verdade”!

 É importante darmo-nos conta, de que estamos vivendo um “tempo de graça”, de chamado à mudança, à renovação. Diante das mudanças que mundo trama e engendra, as Igrejas precisam colocar-se a serviço das mudanças que o Reino de Deus nos exigem com urgência, para que ele, o Reino, “venha” e possa realizar-se “assim na terra como no céu”! 

A Campanha da Fraternidade deste ano de 2015 bem que nos tentou acordar para o engajamento no esforço comum dos Movimentos Sociais Populares, de contribuir para as mudanças que precisam ocorrer em nossa Sociedade. 

Desde o ano passado, que o “Grito dos Excluídos”, a OAB, a própria CNBB, de várias maneiras e por vários caminhos nos convocam, por exemplo, à luta pela REFORMA POLÍTICA, pela convocação de uma ASSEMBLEIA CONSTITUINTE EXCLUSIVA E SOBERANA PARA A REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO, sem o quê, nenhuma transformação social de profundidade, amplitude e envergadura poderá prosperar nesse país de secular cultura do privilégio e da corrupção. 

Mas quem tem escutado este apelo?... Quem, em nossas Igrejas, se tem deixado conduzir pelo Espírito da transformação?... Sinceramente, há o que celebrar neste Pentecostes, que bem poderia ser uma culminância da Campanha da Fraternidade? Mas, se não vai ser “cume” de uma vida eclesial coerente e fiel ao Evangelho do Espírito transformador, que possa ser, pelo menos, “fonte”, isto é, nos desperte do marasmo de um cristianismo estéril, que em nada corresponde ao que Jesus nos sugere quando nos convoca a sermos “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento na massa”, de modo que as “pessoas vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”! (Mt 5,16).  


De  Reginaldo Veloso (Presbítero das CEBs)