Com Cristo entremos na Jerusalém celeste...
Fico a
imaginar as indagações dos poderosos daquela época acerca de Jesus e sua entrada
triunfante em Jerusalém, ou ainda, os burburinhos que corriam à meia boca por
entre becos e vielas da cidade santa. A Páscoa chegando, a cidade se enchendo
de gente e mais gente, famílias e mais famílias. O que será que falavam o povo
sobre um certo Jesus, o nazareno? Teria sido cedo da manhã? Por volta do meio
dia? No fim de tarde? Será que o jumento tinha ideia da carga inestimável que
ele levava em seu lombo? E a emoção? Os gritos ao ver o mestre que todos
falavam? Será que ele acenava? Beijava crianças? Tenho uma certeza. Ele ria
muito, afinal de contas, qual pastor não se alegra entre suas ovelhas? E mais
ainda, elas todas vindo ao seu encontro. – Jesus! Jesus! – Rabi! – Cristo! –
Hosana, hosana! – Viva o rei! – Bendito o que vem em nome do Senhor!
E
voltando aos poderosos da época... eles viam uma figura de um rei desprovido de
adornos e vaidades mundanas. Numa cena dissonante do que se esperaria de um
rei. Eis que com todo seu poder entra, ele, triunfante no lombo de um
jumentinho. Mas quem é esse rei? A caso quer ele com esse espetáculo simplório
e tosco, diriam eles, debochar das monarquias da terra? – É louco? Se deixa
tocar pela plebe com seus ramos agitados? Que reino é o seu? Como pode ser
grande com tão insignificante demonstração de poder?
Ao ser
indagado por Pilatos sobre ser rei, Jesus responde que seu reino não é desse
mundo (Jo 18, 36). Partimos daí com a melhor pista para compreender aquilo que
nossos olhos humanos não compreendem. O seu reino não é visível neste mundo,
pois não é deste mundo e nada que tenhamos por ideia do que seja um rei ou
reino torna tangível a ideia do reino de Cristo.
Torna-se
impossível compreender tal reino com os olhos desse mundo. Esse rei nasceu pobre
nas palhas, entre os animais (Lc 2, 7). Abandonado deste mundo, pois não tinha
lugar para recostar sua cabeça (Mt 8, 20). Filho de uma mãe pobre e um pai
carpinteiro numa situação no mínimo controversa e confusa para sua época, até
mesmo para nossa. Batizado no deserto, por João, começou seu projeto juntando
12 homens, os mais desconexos e inapetentes discípulos, diriam qualquer profeta
de sua época com seus seguidores. Do seu grupo de doze, boa parte eram
analfabetos, um ex. cobrador de impostos, um jovem demais, outro velho demais e
para sua sorte, ainda, entre os seus havia um traidor...
Ele
anunciou a boa nova, mas não falava aos poderosos desse mundo, muito pelo
contrário, em suas parábolas, falava de coisas simples, sem rebuscamento de
palavras, sem filosofias complexas, falava do campo, da terra, falava de coisas
vulgares para os poderosos, porém claro como o dia para os pobres. Não se
escondera nos palácios e seu trono era nas pedras onde sentava para ensinar de
seu Pai. Não tinha um exército, não exercia seu poder pela força, mas pela
autoridade de seu nome fazia prodígios. O imposto que esse rei cobrava era o
amor pelo próximo (Mc 12, 31) e a compreensão e oração pelos inimigos. Ofereça
a outra face, dizia o rei num discurso, (Mt 5, 38-44) noutro dizia: - Perdoa setenta
vezes sete (Mt 18, 21s)....
Ao entrar
em Jerusalém esse rei completa os passos finais para a sua maior glória na
terra. Ele será elevado ao alto e no topo desse mundo será crucificado. O
destino programado para esse rei, que já era por ele conhecido e aceito desde a
eternidade, era a humilhação e morte no madeiro da cruz. A grandeza desse rei,
que os olhos do mundo não enxergaram, está em sua obediência e fidelidade ao
projeto de quem o enviou. Fiel até a morte e morte de cruz. Entrar com Cristo
em Jerusalém é estar disposto a ir para além da alegria dos ramos, para além da
participação da ceia. É preciso ir com ele até a cruz. E com ele, também, de
nossas cruzes entregar ao pai, num grito, o nosso espírito. Esperar com ele na
mansão dos mortos e com ele ressuscitar para a Páscoa eterna. Para entrar com
ele na Jerusalém celeste o caminho passa pela cruz.
José
Carlos Costa Santos
Secretário
Regional de AE e DHJUPIC - PB/RN (NE A3)
Psicanalista
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