O evangelho que a liturgia propõe neste Domingo de Páscoa é João 20,1-9. Ao invés de ser um relato da Ressurreição, esse é na verdade um relato do “sepulcro encontrado vazio”, pois a ressurreição é indescritível. Ao contrário da paixão e da morte de Jesus, as quais são descritas minuciosamente pelos Evangelhos, nenhuma descrição da ressurreição é feita, o que pode parecer estranho, considerando que é a ressurreição o evento fundante do cristianismo e, por isso, o centro da fé cristã. Foi exatamente em função da ressurreição que os evangelhos foram escritos e, mesmo assim, seus autores não conseguiram descrevê-la.


O texto que a liturgia propõe para hoje, é apenas a introdução daquilo que o Quarto Evangelho dedica à ressurreição, sem, no entanto, descrevê-la: a descoberta do sepulcro vazio, o que pode significar muita coisa ou quase nada, a depender de quem faz a constatação. Três personagens entram em cena nesse texto: Maria Madalena, Simão Pedro e o discípulo amado. O número três já é, por si, um grande e significativo sinal; se trata de um indicativo teológico: significa uma comunidade, a qual encontra-se profundamente abalada, devido ao final trágico de seu líder, mas que vai, aos poucos, sendo recomposta, à medida em que a esperança é recuperada.


Eles ainda não haviam entendido que Jesus ressuscitaria, mas vendo o sepulcro vazio, acreditaram. Cristo ressuscitado é o motivo maior da fé cristã. A fé em Jesus Cristo ressuscitado não é algo de espontâneo e automático, como se bastasse ouvir o relato de sua ressurreição nas catequeses, cursos e pregações. Como a Madalena, precisamos fazer cada qual o nosso percurso para busca-Lo em meio à escuridão de nossas dúvidas, incertezas, angústias e pecados. Sem o sofrimento desta obra a fé é morta, dirá posteriormente, São Paulo. Este é o último dia da Semana Santa, o dia de grande esperança para todos nós.


“[...] celebramos a Páscoa, que, em hebreu, significa passagem da escravidão para a liberdade. Com a ressurreição de Cristo temos a destruição da morte e a confirmação da plenitude e eternidade da vida, dada a cada um de nós através do Amor Divino e da misericórdia do Pai.” (Carta por ocasião da Semana Santa e da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo). ⠀


São Francisco exortava os irmãos para que estes celebrassem a Páscoa do Senhor em pobreza de espírito, continuamente, a passagem desse mundo para o Pai. Para ele, era como se o seu eu fosse a sua própria casa, uma vez que sua identificação com Cristo Ressuscitado o levava a viver em si mesmo o que era de mais central no destino e no comportamento de Jesus. (Cf. Dicionário Franciscano, p.533).


Nesta Páscoa, pedimos a Deus a libertação de seu povo desse mal que nos assola, a COVID-19. Que possamos celebrar essa festa com nossas famílias, tendo plena certeza que um dia ressuscitaremos com Cristo e veremos Sua glória. Que possamos ressurgir para a vida eterna, a exemplo de Francisco e Clara que abraçaram verdadeiramente o Amor que não é amado, nos tornando homens e mulheres novos, que levam esperança, verdade e libertação.


William Marques

Secretário Regional de Ação Evangelizadora

Regional NE B3