A Cruz do Senhor e a Cruz dos Discípulos

Números 21,4-9; João 3, 13-17



Quase na metade do mês de setembro vivemos a alegria da grande festa da exaltação da cruz do Senhor.  A antífona de entrada da missa, tirada de Romanos,  exprime bem  o sentido profundo desta comemoração: “A cruz de nosso Senhor Jesus  Cristo deve ser a nossa glória:  nele está a nossa vida e ressurreição;  foi ele que nos salvou e libertou” (Fl 6,14).
Cruz, instrumento de suplício: uma madeira mais longa na vertical e a outra,  mais estreita,  na horizontal.  Castigo para os condenados!  Antes de ser cruz a árvore frondosa era balançada pelo vento e seu verdor encantava os olhos dos passantes.  As árvores dos bosques e das  florestas é que oferecem a mataria prima da cruz.  Um lenhador derrubou uma ou duas árvores, um entendido em carpintaria fez o encaixe…
Com o desenrolar-se dos fatos da vida de Jesus as autoridades de Jerusalém  chegaram ao consenso de que esse Jesus não podia continuar a viver.  Deveria ser sacrificado.  Os acontecimentos se precipitam. Ele carrega a cruz, é nela pregado e levantado da terra. Ele é tido como  alguém  que pratica o mal, um malfeitor. Não convinha que continuasse a viver.  Jesus experimenta toda sorte de sentimentos na precipitação dos acontecimentos. Vive dura solidão. Vê-se despojado de suas vestes. Não tem a quem apelar.  O Pai, que a tudo assiste parece mudo e indiferente. Aquele que havia aprendido a trabalhar com madeira  está deitado e preso ao madeiro.
Desde a nossa infância fomos aprendendo que não se pode separar Cristo  da cruz. Ele, contorcendo-se de dor, resume no gesto  de sua morte, toda a sua vida: uma existência dada.   Dá sentido ao fato de morrer.  Morte na filial obediência e no intuito de dar vida para os outros.  Literalmente, ali, na cruz,  ele é o grão de trigo que  vai ser jogado à terra.
Depois da cruz de Cristo muitos outros crucificados  foram assumindo suas cruzes, na esteira do patíbulo da sexta-feira das trevas e da luz.  Cristo continua morrendo nos inocentes condenados, nas mulheres abandonas pelos maridos, nas crianças sem pai e sem mãe que vagueiam pelos campos de refugiados de países da  África, em todos esses  que são assaltados e espancados no santuário de suas casas, nos que dão a vida pelos outros.
Assim, exaltamos a cruz do Senhor e respeitamos todos os que na esteira do Crucificado do Gólgota estão unidos a ele.
Terminamos esta reflexão com  parte do Prefácio da Missa que fala de vitória da cruz:  “Puseste no lenho da cruz a salvação da humanidade  para que a vida ressurgisse de onde a morte  viera. E o que vencera na árvore do paraíso, nas árvore da cruz fosse vencido”

Frei Almir Ribeiro Guimarães

Fonte: www.franciscanos.org.br