A freira congolesa Angélique Namaika foi agraciada com o Prêmio Nansen de Refugiados – uma espécie de prêmio Nobel do mundo humanitário. O anúncio foi feito esta terça-feira, em Genebra, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). No dia 2 de outubro, a religiosa será recebida em audiência, no Vaticano, pelo Papa Francisco.

Irmã Angélique, da Congregação das Irmãs Agostinianas, há 10 anos trabalha na remota cidade de Dungu, no nordeste da República Democrática do Congo, com mulheres vítimas do conflito congolês e, mais especificamente, da violência de gênero.

À frente do Centro para Reintegração e Desenvolvimento, a Irmã Angélique Namaika já ajudou a transformar a vida de mais de duas mil mulheres e meninas que foram forçadas a deixar suas casas e sofreram abusos, principalmente pelo grupo rebelde LRA. Muitas destas mulheres trazem histórias de sequestro, trabalho forçado, espancamento, assassinato, estupro e outras violações de direitos humanos.

Sua abordagem individual as ajuda a recuperar seus traumas. Além da violência sofrida, estas mulheres e meninas vulneráveis são frequentemente isoladas e discriminadas por seus próprios familiares e comunidades devido à violência que sofreram.

É preciso um cuidado especial para conseguir que elas curem suas feridas e reconstruam suas vidas. A Irmã Angélique tem sido bem sucedida ajudando-as a desenvolver atividades de geração de renda, a começar um pequeno negócio ou a voltar à escola. Depoimentos das mulheres atendidas pela Irmã Angélique mostram o notável efeito do trabalho da freira em promover uma reviravolta em suas vidas, já que muitas delas a chamam de “mãe”.

 Estima-se que aproximadamente 350 mil pessoas tenham sido forçadas a deixas suas casas na região de Dungu. A brutalidade do LRA é bastante conhecida, e depoimentos de mulheres confirmam esta prática.

A própria Irmã Angélique foi, em 2009, forçada a se deslocar em consequência da violência praticada pelo LRA. Na cidade de Dungu, ela sentiu na pele a dor de ter sido obrigada a deixar sua casa. Deste trauma, ela tira parte de sua motivação para realizar seu trabalho cotidiano com as mulheres congolesas em necessidade.

Para a vencedora deste ano do Prêmio Nansen, “é muito difícil imaginar o sofrimento das mulheres e meninas vítimas do LRA, pois elas guardarão as cicatrizes desta violência por toda a vida”. Segundo a Irmã Angélique Namaika, o prêmio “ajudará mais pessoas deslocadas em Dungu a recomeçar suas vidas. Jamais vou parar de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para dar-lhes esperança e uma chance de viver de novo”.

Algumas dessas mulheres congolesas encontraram refúgio no Brasil. As Caritas Arquidiocesanas de São Paulo e do Rio de Janeiro trabalham em parceria com o ANCUR.

O Brasil possui cerca de 4.400 refugiados de cerca de 70 nacionalidades. Os congoleses representam o 3º maior grupo (cerca de 13%), antecedidos pelos angolanos e colombianos.


Com informações da Rádio Vaticano e do ACNUR