As bem-aventuranças como caminho de santidade - Mateus 5,1-12
"Felizes os que são pobres no espírito, porque deles é o
reino dos céus." (Mateus 5,3)
Todas as pessoas são chamadas à santidade, a fim de serem
bem-aventuradas. Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo (Levítico
19,2). A comunidade de Mateus faria uma releitura desse chamado da seguinte
forma: Sede perfeitos, como o Pai celeste é perfeito (Mateus 5,48).
Coerente com sua experiência com o Deus da misericórdia, a comunidade de Lucas
formula assim o mesmo chamado: Sede misericordiosos como vosso Pai é
misericordioso (Lucas 6,36).
Dia 02 de novembro é um dia especial em que milhões de pessoas
refletem sobre todas as pessoas bem-aventuradas e que já se encontram na glória
do Pai. Conforme a comunidade de Mateus, Jesus nos propõe oito bem-aventuranças
como caminho de santidade e que já começa nesta vida.
Quando Mateus apresenta Jesus fazendo cinco grandes
discursos (Mateus 5-7; 10; 13,1-52; 18; 24-25), sua intenção é apresentá-lo
como o novo Moisés, a quem eram atribuídos os cinco livros da Lei, o
Pentateuco. A Lei era considerada a expressão da vontade de Deus. No tempo de
Jesus, muitos fariseus estavam preocupados em viver a Lei ao pé da letra.
Jesus, porém, vive e anuncia essa vontade de Deus indo além da letra da Lei.
Diz que é o espírito da Lei que interessa e que ele consiste na vivência do
amor a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22,34-40). Diz ainda que este
espírito da Lei deve ser a orientação fundamental para o nosso agir (cf. Mateus
12,1-8; 23). Mateus chama essa vontade de Deus de justiça do Reino.
Se Moisés era o antigo mestre da Lei, Jesus é o novo mestre da justiça a
nos ensinar o caminho de Deus, o caminho da santidade.
O primeiro grande ensinamento do mestre da justiça, o Sermão
da Montanha (Mateus 5-7), é um conjunto de orientações para a boa convivência
na comunidade. Tal como Moisés escrevera as palavras da Lei estando sobre um
monte, Jesus dá as novas orientações também numa montanha (Êxodo 34,28; Mateus
5,1).
As bem-aventuranças (Mateus 5,1-12) são a porta de entrada
ao Sermão da Montanha Mateus (5-7). São um programa de vida para trazer
felicidade plena a quem adere à Boa-Nova de Jesus.
A justiça do Reino dos Céus (= de Deus), isto é, a vontade
de Deus, é o carro-chefe das bem-aventuranças. O Reino é o projeto na
primeira e na oitava bem-aventurança. E, no centro, estão a busca da justiça e
a busca da misericórdia (ter o coração voltado para quem
está na miséria). Uma vez realizada a justiça de Deus, os empobrecidos
deixarão de ser oprimidos, pois haverá partilha e solidariedade. Por isso,
Jesus os declara felizes.
A primeira bem-aventurança é a mais importante. As demais
são explicitações desta. Os pobres são aqueles que choram, são os mansos ou
humildes (no Salmo 37,11, texto-base para esta bem-aventurança, são chamados de
pobres-anawim), os que têm fome, os misericordiosos, os puros de coração, os
que promovem a paz e as pessoas perseguidas por causa da justiça. E as dádivas
para os empobrecidos são: o Reino de Deus, o conforto, a terra partilhada, a
fartura, a misericórdia, a contemplação de Deus e a filiação divina (agir à
imagem e semelhança de Deus ou ter as mesmas atitudes de Deus).
Mas ser pobre não é suficiente. Está claro que os
empobrecidos são os preferidos de Deus, justamente por que ele não pode ver
nenhum de seus filhos e nenhuma de suas filhas passando por necessidades. Ainda
mais, quando a pobreza é fruto da injustiça humana. É interessante notar que
esta mesma bem-aventurança, no Evangelho segundo Lucas, reza assim: "Felizes
vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!" (Lucas 6,20).
Quando a comunidade de Mateus acrescentou "no espírito"
à primeira bem-aventurança de Jesus (Mateus 5,3), também estava preocupada com
o fato de que há pobres com o espírito de rico incorporado em seu coração e sua
mente, buscando, na riqueza e no poder, o sentido mais profundo para a vida.
Por isso, quis deixar bem claro para seus destinatários que não basta ser
pobre, mas que é preciso ser "pobre no espírito", isto é, viver de
acordo com o espírito do próprio Deus; ser pobre também por opção pelo projeto
da justiça e de misericórdia; viver na total confiança e dependência de Deus;
confiar na partilha, na vida simples e na fraternidade.
Aliás, são justamente as pessoas que buscam a felicidade no
consumismo e no individualismo que perseguem aos que lutam pela justiça do
Reino, pela paz e pela partilha. Foi assim que, no passado, os poderosos
perseguiram os profetas (Mateus 5,10-12).
E hoje, Jesus renova o convite para nós: "Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
dadas por acréscimo." (Mateus 6,33). E o caminho da justiça do Reino, o
caminho da santidade está na prática do espírito da Lei proposto nas
orientações fundamentais para a vida contida, isto é, nas bem-aventuranças.
Fonte: Centro de Estudos Bíblicos (CEBI): www.cebi.org.br
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