Uma palavra sobre Ofício Divino
Penha Carpanedo



As Comunidades Eclesiais de Base valorizam as celebrações como momentos de louvor a Deus em Jesus Cristo e no Espírito, no meio da caminhada da vida e das lutas. Dão testemunho de um louvor que nasce da pobreza e do sofrimento sem deixar de ser amoroso, bonito e cheio de esperança.

No esforço por uma liturgia fiel à tradição, mas com o rosto de nossas raças, têm reconhecido no Ofício Divino das Comunidades (ODC) importante referência de oração. De fato, o Ofício das Comunidades é uma herança que abraça a tradição antiga da igreja e a espiritualidade latino-americana. É uma fonte onde beberam Jesus e as primeiras comunidades cristãs, e onde buscam água ainda hoje muitas pessoas que gostam de orar com salmos à luz da páscoa de Jesus: as CEBs do campo e da cidade. as pastorais da juventude, o povo da rua, os círculos bíblicos, os grupos de novena do natal, etc... 


O ofício Divino é uma celebração comunitária da fé, uma liturgia. Por meio dela continuamos a oração de Jesus ao Pai, fazendo memória da sua páscoa nas horas do dia e nas horas da vida, intercedendo com ele, por toda a humanidade, em comunhão todos e todas que crêem.



Qualquer celebração comunitária precisa de um mínimo de estrutura. Em todas as religiões há ritos para expressar as suas crenças. No Ofício das Comunidades a estrutura de cada celebração (ofício) é bem simples: inicia-se com uma invocação de Deus através de versos de um salmo; abre-se para a recordação da vida; propõe-se o hino que explicita o sentido do mistério celebrado; depois vem o salmo; uma leitura bíblica, meditação e partilha; cântico evangélico; preces, pai nosso e oração; e a bênção final. Cada um destes elementos mudam de acordo com a hora do dia, o tempo litúrgico e as circunstâncias da vida. Hoje por exemplo tomamos como referência o ofício da manhã da quarta feira no tempo comum (ODC p. 468), e o adaptamos às circunstâncias deste nosso “décimo primeiro intereclesial das CEBs”.




1- O sentido de cada elemento do rito

A Chegada é o momento de preparação imediata que tem como finalidade criar o silêncio para a oração pessoal. Responde à necessidade de cada pessoa “reunir o coração” para que se possa constituir a assembléia em oração... Pode ajudar neste momento: iluminação reduzida, música ambiente, toques de atabaque que leve à concentração, um refrão contemplativo...


A Abertura é o começo do ofício com versos bíblicos de invocação de Deus, sem qualquer comentário. Expressa a gratuidade da oração e a iniciativa de Deus.

A Recordação da vida é o momento em que afirmamos a relação entre a celebração e a vida, entre a paixão e morte do Senhor e paixão e morte do povo. Em toda a celebração, a vida está como que “latente”, mas na recordação da vida explicitamos mais claramente fatos de alcance e impacto nacional, situações e experiências trazidas pelos participantes, memória dos mártires que serão depois retomados no salmo, na meditação, nas preces... 


O Hino é um canto diferente do salmo, cantos que nasceram da experiência da Igreja de ontem ou de hoje. Tem como finalidade expressar a oração da assembléia, a partir do mistério celebrado de acordo com a hora do dia e hora da vida.

O Salmo é um dos elementos centrais no Ofício Divino. São poemas, cânticos, preces que acompanharam o povo de Deus a caminho da terra prometida e são ainda hoje muito importantes na espiritualidade judaica. Por um lado, eles são símbolos de tudo o que o ser humano carrega em seu coração: alegrias e sofrimentos, angústias e esperanças, docilidade e indignação, amor e ódio... Por outro lado, eles são símbolo que revelam o próprio Deus, atento ao grito dos pobres, pronto a manifestar seu amor e sua compaixão. Os salmos foram a oração de Jesus, de Maria, das primeiras comunidades cristãs. Por isso, na tradição das Igrejas cristãs, um salmo é sempre rezado a partir de Jesus e da sua vitória pascal. Com essa chave, somos convidados a entrar na oração do salmo fazendo dele a nossa própria oração. Depois de cada salmo há um tempo de silêncio e de repetição de alguma palavra que nos tocou. Isso nos permite curtir a palavra de Deus e deixar que ela se torne a palavra da nossa oração.


Além dos salmos, escutamos uma leitura bíblica que pode ser dos evangelhos ou de outro livro do antigo ou do novo testamento. Em geral, as comunidades seguem as leituras indicadas na liturgia diária da missa. Se for evangelho é precedido por uma aclamação. Se for outra leitura é seguida de versos bíblicos de meditação. “Deve ser lida e ouvida como verdadeira proclamação da Palavra de Deus.” (IGLH n. 45).

Fazem parte do roteiro do Ofício os três Cânticos Evangélicos, tirados do evangelho de Lucas. No ofício da manhã, canta-se o cântico de Zacarias ao raiar o sol; evoca a memória de Jesus o sol nascente. À tarde, ao findar o dia, entoa-se o Cântico de Maria nos faz agradecer a Deus pela salvação. À noite é a vez do Cântico de Simeão, que proclama a força da luz que brilha para todos os povos. É o ponto alto do ofício, por isso podemos dar ênfase a este momento: com passos de dança acompanhando o ritmo, com incenso...
Nas Preces unindo-nos à oração de Jesus, exercemos nossa vocação de povo sacerdotal, louvando, agradecendo e intercedendo pelas necessidades da humanidade e urgências do mundo. 


O ofício termina com a invocação da bênção de Deus sobre a assembléia convidada a prolongar o louvor no ofício que deve continuar em todo o tempo e lugar, em cada gesto de amor e de serviço...

Por fim, um refrão que funcione como “saideira”, prolongando a bênção.


2- Símbolos e ministérios

Sabemos o quanto o espaço bem arrumado e harmonioso é decisivo para o bom êxito de uma celebração. O espaço de celebração das CEBs é símbolo da sua identidade profética, expressão de uma Igreja povo de Deus, pobre e servidora do reino. Queremos cuidar para que nossos espaços sejam bonitos, ao mesmo tempo simples, refletindo a cultura local, bem coerente com a sua finalidade de abrigar uma assembléia de irmãos e irmãs para fazer memória da páscoa do Senhor. Faz parte do espaço: a mesa para a santa ceia, a estante da Palavra, o suporte para a vela (menorá), a cruz, toalhas e o lugar da assembléia (de preferência em círculo). A mesa permanece no local, em todas as celebrações e não só quando há eucaristia. É um sinal permanente da entrega do Senhor. 


Símbolos importantes no Ofício: o sol que nasce e se põe; o acendimento das velas especialmente no ofício de vigília do domingo e das festas; a reunião da assembléia; elementos cósmicos...

Sobre os gestos: todos participam de pé: durante a abertura, o hino, o cântico evangélico, as preces, o Pai-nosso e a oração conclusiva (IGLH, n. 263). Todos participam sentados da proclamação das leituras (exceto o Evangelho), dos salmos e demais cânticos com suas antífonas (IGLH, nn. 264-265). Faz-se o sinal da cruz sobre os lábios no verso da abertura da manhã Estes lábios meus vem abrir Senhor. O sinal da cruz sobre o corpo acompanha o verso da abertura da tarde Vem, ó Deus da vida... e o início dos cânticos evangélicos. Quem desempenha o ofício de leitor proclamará em pé, do lugar apropriado, as leituras longas ou breves (IGLH,n. 259).

Os ministérios no ofício são: coordenação (uma ou mais pessoas), leitores e cantores. Quem coordena dá início ao ofício com o verso introdutório; introduz as preces (cf. IGLH n. 190) e a oração do Senhor; profere a oração conclusiva, a bênção e a saudação (cf. IGLH n. 256) e indica em cada caso a página do livro, quando for o caso. Cabe aos cantores entoar os refrões, salmos e demais cantos (cf. IGLH n. 260) e aos leitores cabe proclamar as leituras bíblicas. Outros serviços: acender o círio no início; entrar com o estandarte, apresentar os fatos na recordação da vida, etc.

Fonte: http://www.redecelebra.com.br/oficio_divino.php?pag=1 em 11/07/14 às 20h40m