PARA CNBB, REFORMA DA PREVIDÊNCIA “ESCOLHE O CAMINHO DA EXCLUSÃO SOCIAL”
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
divulgou, nesta quinta-feira, dia 23 de março, uma nota sobre a Reforma da
Previdência. No texto, aprovado pelo Conselho Permanente da entidade, os bispos
elencam alguns pontos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016,
considerando que a mesma “escolhe o caminho da exclusão social” e convocam os
cristãos e pessoas de boa vontade “a se mobilizarem para buscar o melhor para o
povo brasileiro, principalmente os mais fragilizados”.
Em entrevista coletiva à imprensa, também foram apresentadas outras duas
notas. Uma sobre o foro privilegiado e
outra em defesa da isenção das
instituições filantrópicas. Na ocasião, a Presidência da CNBB falou
das atividades e temas de discussão durante a reunião do Conselho Permanente,
que teve início na terça-feira, dia 21 e terminou no fim da manhã desta quinta,
23.
Apreensão
Na nota sobre a PEC 287, a CNBB manifesta apreensão com relação ao
projeto do Poder Executivo em tramitação no Congresso Nacional. “A previdência
não é uma concessão governamental ou um privilégio. Os direitos Sociais no
Brasil foram conquistados com intensa participação democrática; qualquer ameaça
a eles merece imediato repúdio”, salientam os bispos.
O Governo Federal argumenta que há um déficit previdenciário,
justificativa questionada por entidades, parlamentares e até contestadas
levando em consideração informações divulgadas por outros governamentais. Neste
sentido, os bispos afirmam não ser possível “encaminhar solução de assunto tão
complexo com informações inseguras, desencontradas e contraditórias”.
A entidade valorizou iniciativas que visam conhecer a real situação do
sistema previdenciário brasileiro com envolvimento da sociedade.
Leia na íntegra:
NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 287/16 – “REFORMA DA
PREVIDÊNCIA”
“Ai dos que
fazem do direito uma amargura e a justiça jogam no chão”
(Amós 5,7)
(Amós 5,7)
O Conselho Permanente da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, dos dias 21 a 23 de
março de 2017, em comunhão e solidariedade pastoral com o povo brasileiro,
manifesta apreensão com relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
287/2016, de iniciativa do Poder Executivo, que tramita no Congresso Nacional.
O Art. 6º. da Constituição Federal de
1988 estabeleceu que a Previdência seja um Direito Social dos brasileiros e
brasileiras. Não é uma concessão governamental ou um privilégio. Os Direitos
Sociais no Brasil foram conquistados com intensa participação democrática;
qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio.
Abrangendo atualmente mais de 2/3 da
população economicamente ativa, diante de um aumento da sua faixa etária e da
diminuição do ingresso no mercado de trabalho, pode-se dizer que o sistema da
Previdência precisa ser avaliado e, se necessário, posteriormente adequado à
Seguridade Social.
Os números do Governo Federal que
apresentam um déficit previdenciário são diversos dos números apresentados por
outras instituições, inclusive ligadas ao próprio governo. Não é possível
encaminhar solução de assunto tão complexo com informações inseguras,
desencontradas e contraditórias. É preciso conhecer a real situação da Previdência
Social no Brasil. Iniciativas que visem ao conhecimento dessa realidade devem
ser valorizadas e adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o
total envolvimento da sociedade.
O sistema da Previdência Social possui
uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a proteção social de pessoas
que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social (idade,
enfermidades, acidentes, maternidade...), particularmente as mais pobres.
Nenhuma solução para equilibrar um possível déficit pode prescindir de valores
éticos-sociais e solidários. Na justificativa da PEC 287/2016 não existe
nenhuma referência a esses valores, reduzindo a Previdência a uma questão
econômica.
Buscando diminuir gastos
previdenciários, a PEC 287/2016 “soluciona o problema”, excluindo da proteção
social os que têm direito a benefícios. Ao propor uma idade única de 65 anos
para homens e mulheres, do campo ou da cidade; ao acabar com a aposentadoria
especial para trabalhadores rurais; ao comprometer a assistência aos segurados
especiais (indígenas, quilombolas, pescadores...); ao reduzir o valor da pensão
para viúvas ou viúvos; ao desvincular o salário mínimo como referência para o
pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), a PEC 287/2016 escolhe o
caminho da exclusão social.
A opção inclusiva que preserva direitos
não é considerada na PEC. Faz-se necessário auditar a dívida pública, taxar
rendimentos das instituições financeiras, rever a desoneração de exportação de
commodities, identificar e cobrar os devedores da Previdência. Essas opções
ajudariam a tornar realidade o Fundo de Reserva do Regime da Previdência Social
– Emenda Constitucional 20/1998, que poderia provisionar recursos exclusivos
para a Previdência.
O debate sobre a Previdência não pode
ficar restrito a uma disputa ideológico-partidária, sujeito a influências de
grupos dos mais diversos interesses. Quando isso acontece, quem perde sempre é
a verdade. O diálogo sincero e fundamentado entre governo e sociedade deve ser
buscado até à exaustão.
Às senhoras e aos senhores
parlamentares, fazemos nossas as palavras do Papa Francisco: “A vossa difícil
tarefa é contribuir a fim de que não faltem as subvenções indispensáveis para a
subsistência dos trabalhadores desempregados e das suas famílias. Não falte entre
as vossas prioridades uma atenção privilegiada para com o trabalho feminino,
assim como a assistência à maternidade que sempre deve tutelar a vida que nasce
e quem a serve quotidianamente. Tutelai as mulheres, o trabalho das mulheres!
Nunca falte a garantia para a velhice, a enfermidade, os acidentes relacionados
com o trabalho. Não falte o direito à aposentadoria, e sublinho: o direito — a
aposentadoria é um direito! — porque disto é que se trata.”
Convocamos os cristãos e pessoas de boa
vontade, particularmente nossas comunidades, a se mobilizarem ao redor da atual
Reforma da Previdência, a fim de buscar o melhor para o nosso povo,
principalmente os mais fragilizados.
Na celebração do Ano Mariano Nacional,
confiamos o povo brasileiro à intercessão de Nossa Senhora Aparecida. Deus nos
abençoe!
Brasília, 23 de março de 2017.
Cardeal
Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Dom
Murilo S. R. Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich
Steiner, OFM
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: CNBB
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