Numa manhã de Fevereiro de 1208 Francisco ouviu na Missa o trecho do Evangelho onde se conta como Jesus enviou os discípulos a pregar e lhes indicou a maneira evangélica de viver. Celano salienta que no fim da Missa ele foi pedir ao sacerdote que lhe explicasse melhor essa passagem. E então, “exultando de alegria no Espírito Santo, exclamou: ‘É exatamente isso o que eu pretendo e procuro, e do fundo do coração anseio por realizar'” (1C 22). Boaventura comenta: “Ao escutar atentamente estas palavras, foi tal a violência com que o Espírito de Cristo o sensibilizou, que mudou de vida por completo … (Lm 2,2)” Isso constituiu para Francisco como uma Anunciação ou um Pentecostes. E logo se lançou na aventura da missão que teimará em seguir até à morte juntamente com os companheiros que se lhe vão associar.
Nessa passagem evangélica há uma palavra que especialmente o sensibilizou, segundo ele mesmo confidencia no Testamento: “Revelou-me o Senhor que devíamos saudar-nos dizendo: ‘O Senhor te dê a paz’” (T22). Isso virá a fazer dele, com a força do Espírito, o mensageiro da paz de Deus.
É exatamente sob essa figura de mensageiro da Paz que ele hoje é mais conhecido e invocado, como atestam o sucesso da Oração pela Paz, que lhe é atribuída, e até o encontro ecumênico dos chefes religiosos em Assis, convocado e presidido pelo papa João Paulo II em Outubro de 1986. Com a veia profética dum João Batista, também ele faz aos quatro ventos um apelo a todos à conversão, à reconciliação com Deus e com os irmãos, e mesmo com os inimigos: expulsa de Arezzo os demônios da violência; leva adversários a assinarem tratados de paz; reconcilia em Assis o bispo com o potestade. E à sua fraternidade ainda embrionária confia a mesma missão: «Ide, caríssimos, e anunciai aos homens a paz e pregai-lhe a conversão que leva ao perdão dos pecados» (1C 24).
O recente e histórico acontecimento de Assis mostra como o Espírito do Senhor continua a pressionar a Família franciscana a que se empenhe com coragem no serviço da paz, pela oração e pela promoção da justiça e dos direitos do homem.
Francisco sonha mesmo com levar a paz para além das fronteiras da cristandade do seu tempo. Por inspiração divina, ou seja, impelido pelo Espírito, atreve-se a fazer uma tentativa verdadeiramente pasmosa para a época: num gesto de cortesia, vai encontrar-se com o Sultão do Egito, considerado, e não sem motivo, o inimigo número um dos cristãos. Uma pregação deste gênero, bem como outros empreendimentos de paz, acaretam-lhe por vez dissabores e hostilidades: mas ele tudo suporta com alegria para seguir mais de perto os passos do seu amado Senhor, na esperança de poder acompanhá-lo até ao martírio. Na impossibilidade de atingir essa meta, acolhe com alegria as humilhações e um certo desprezo que lhe acarreta até mesmo por parte de alguns irmãos, a sua intransigente fidelidade em viver o Evangelho. A parábola da Perfeita Alegria, relatada na “I Fioretti” no capitulo VIII, representa a tradução maravilhosa da experiência de quem sabe sofrer perseguição pela justiça por amor de Cristo. Para Francisco, paz e alegria são frutos do Espírito.

Léon Robinot, ofmcap
Do Livro “A Espiritualidade de Francisco de Assis”, Editorial Franciscana – Braga – Portugal

Outros acontecimentos

A vida de Francisco de Assis apresenta a particularidade muito evidente de nela se poderem discernir certos momentos-chave: um homem sentindo-se num ápice apanhado, arrebatado por outrem, e imediatamente desviado em direção diferente, como que sorvido por um tornado ou abrasado por um incêndio…
O autor também escreve sobre outros destes arrebatamentos ocorridos sempre por ação do Espírito Santo. Leia mais: http://franciscanos.org.br/?p=18051