Após todas as agonias, medo, incerteza, tristeza e abandono da longa e dolorosa sexta-feira, seguimos no sábado, guardando o silêncio e a dor da morte do Senhor.


Poderíamos trazer presente a figura da Virgem Maria, a mulher que no silêncio e no escuro da alma recorda seu Divino Filho, que cheio de amor e pureza é morto de maneira cruel e dura, as lembranças se fazem presentes na memória dela, que amparou em seus braços o corpo do seu Jesus, que quando menino ela acariciava os cabelos com a ternura de quem cuida com carinho daquilo (e daquele) que se formou em seu ventre, hoje este jaz em um túmulo. Poderíamos associar o frio e as sombras que assolaram o coração da Virgem, às sombras das tantas mães que perdem seus filhos, para as drogas, para a depressão, para um assalto inesperado. Enfim, para tantas situações que são impostas por um sistema miserável que beneficia a uns e sacrifica a outros.


Reza a tradição e nós renovamos na oração do creio que após a sua morte, no sábado, o Senhor “desceu à mansão dos mortos” libertando as almas cativas, aqueles que nas sombras da morte estão presas, se olhamos ao nosso redor sabemos que temos também outros tipos de “mansões dos mortos”, e muitos desses “mortos” são nossos jovens, ou até mesmo partes de nós, o egoísmo que as vezes mata nossos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos, a ausência de fé que mata nosso coração para anunciar o reino pela palavra e pelo exemplo, a falta de sensibilidade e de cristianismo que mata nossa capacidade de entender nosso próximo e o comodismo que mata nosso compromisso de ajudar de maneira afetiva e efetiva àqueles que o Senhor nos coloca no caminho.


Poderíamos elencar três grandes exercícios que se iniciam neste dia, o primeiro de perceber quem são as “Marias” ao nosso redor e ajudá-las, compartilhando do seu silêncio, consolando a dor da perda do seu filho e mais importante ainda, ajudando para que o brado da nova multidão diante do julgamento desses tantos “Jesus” dos nossos dias não seja um: Crucifica-o.


Depois fazendo a experiência profunda da oração e da escuta da palavra, fazendo com que estas solenidades não sejam só mais uma vez uma celebração triste ou demasiadamente alegre, mas que seja um marco num novo rumo dentro de nosso processo pessoal de conversão e por fim libertando a tantos que jazem nas sombras da morte e precisam de nós para conhecer a luz, a paz e a liberdade.


Nosso coração (assim como o da Virgem) se conforta ao saber que o silêncio deste dia é um posicionamento, uma aguardar pela grandeza de um Deus a quem homem algum é capaz de tirar a vida, mas que a dá com o coração aberto, para o bem dos próprios homens. No entanto a história não termina aí, sabemos que na noite desse dia silencioso os sinos dobrarão, poderemos cantar o aleluia sabendo que na comunhão que o filho de Deus estabeleceu entre os seus e a terra, ambos irão exultar de alegria e verão a Ressurreição daquele que de tão grande fez a morte algo pequeno e vencível.


Alex Bastos
Secretário Fraterno Nacional (2010-2013)