“Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo. 20, 17)


Quando, diante da Cruz e da sepultura de Jesus, parecia que tudo havia sucumbido, os apóstolos e as mulheres viram o túmulo vazio e creram que o Senhor devia ressuscitar dos mortos.
Vendo o sepulcro vazio, aqueles discípulos, homens e mulheres, chegaram a fé da Ressurreição. A fé, porém, neste mistério, não brotou de modo natural e espontâneo, na verdade ela já havia sido lançada como semente no coração daqueles discípulos, homens e mulheres. Tudo teve início com a graça do encontro a partir do qual começaram a segui-Lo enquanto vivo carnalmente entre eles. Não fosse assim, Maria de Magdala, e os dois discípulos citados neste evangelho, não teriam ido ao túmulo tão cedo quando ainda estava tudo escuro. A semente da afeição, da fé, da confiança, da entrega crepitava em seus corações talvez sem o notarem e mais fortemente e justamente, agora, quando parecia ter desaparecido. Ela não consegue esquecer o como e o quanto fora acolhida, amada, perdoada pelo Mestre. Foi o calor, o fervor desta experiência – desta fé - que a levou até o túmulo.
A fé, porém, não é uma clareza de ideias, mas uma luz que cintila no meio da escuridão da noite de muitas incertezas, interrogações, dúvidas, dos muitos medos e sofrimentos e até mesmo de infidelidades. A fé em Jesus Cristo ressuscitado não é algo de espontâneo e automático, como se bastasse ouvir o relato de sua ressurreição nas catequeses, cursos e pregações. Como a Madalena, precisamos fazer cada qual o nosso percurso para busca-Lo em meio à escuridão de nossas dúvidas, incertezas, angústias e pecados. Sem o sofrimento desta obra a fé é morta, dirá posteriormente, São Paulo.
Para testemunhar o mistério da ressurreição de Jesus João se utiliza do verbo “ver”.  Para ele crer é ver. Nossa língua, porém, se mostra um tanto pobre para indicar ou expressar o processo da fé. No original grego esse processo vem aparentado com três verbos diferentes.
Primeiramente, temos o ver de Madalena. Ela vê que a pedra fora retirada do túmulo. Também o discípulo amado, o próprio evangelista João, que fala de si como se fosse uma terceira pessoa, corre mais rápido do que Pedro, chega ao sepulcro primeiro. Ele se inclina e vê as faixas deitadas ali. Todavia não entrou. “Ver”, aqui, em grego, é olhar, ver, no sentido de descobrir a coisa, assim como ela se apresenta em sua materialidade: uma cadeira, uma flor, uma casa, por exemplo. No caso eles viram o sepulcro vazio e nada mais. Os três, são narrados pelo próprio autor com um tipo diferente de visão, todos eles viram as faixas e os panos enrolados, cada um à sua maneira de ver, indo além do aspecto visual, mas no final, todos creram na ressurreição do Senhor.
 E hoje, cabe a nós decidirmos como queremos ver a Jesus Ressuscitado, se queremos também nós fazermos nossa passagem. Em tempos caóticos, de crise mundial, rezemos nossa Páscoa com o Senhor, que ela seja passageira, que ela passe. E que o Cristo viva para sempre em nossos lares, famílias e corações. Celebramos hoje a Ressurreição de Jesus Cristo, e os antigos já se saudavam com “Cristo ressuscitou” ao que respondiam “Ressuscitou verdadeiramente”, um sinal de vida nova em Cristo Jesus e o maior sinal de amor à nossa fé.
A Páscoa é uma nova encarnação de Jesus como também uma nova crucificação. Se antes esses dois mistérios se deram no corpo, na carne, no tempo, agora se dão no espírito. Por isso, eles são, espirituais, universais e eternos, como Ele mesmo havia prometido: Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo. Uma Páscoa Santa pra todos. Paz e bem!

Rafael Carneiro de Sousa, Sec. Nac. Ação Evangelizadora
Irmã Claudenice, FCM – Assistente Espiritual Nacional da Jufra do Brasil