O mistério da Ressurreição de Cristo dá sentido à caminhada penitencial da quaresma e a todo o Tríduo Pascal, o qual converge para o seu cume, que é a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Gostaria, meus irmãos e irmãs, de refletir um pouco sobre o Sábado Santo, o qual muitas vezes pode ser visto como um mero intervalo entre a Paixão e a Vigília Pascal, por isso talvez pareça sem sentido ou sem espiritualidade. No entanto a nossa fé católica nos mostra totalmente o contrário. No Sábado Santo, nós nos dirigimos, enquanto Igreja, esposa de Cristo, ao Santo Sepulcro, para nos colocar diante da realidade da morte e da escuridão, por isso este Sábado é o dia do grande silêncio, de realmente se deixar tocar pela realidade nua e crua da morte de Nosso Senhor, que depois de passar pela agonia e pela cruz, agora volta ao útero da terra, para completar o mistério de sua vida e missão de salvação. Jesus desce à mansão dos mortos, torna-os também participantes de sua vida e morte para assim salvar a todos.
             Cristo assumiu em tudo a condição humana e assim deu à vida da humanidade um novo sentido, inclusive para a morte. Se vivemos, é em Cristo, se morremos, também é em Cristo. Ele é Senhor da Vida e da Morte. Importante ainda recordar que o silêncio despertado nesse dia não é um ponto final. Não vivemos o silencio aqui como o fim de tudo, como um fracasso total. Muito pelo contrário, descobrimos que depois de ter dito tudo para nossa salvação o Verbo de Deus se cala no lenho de cruz e na frieza do túmulo fechado. Tudo o que havia de dizer e fazer e viver Jesus o fez, se entregou totalmente. O silêncio se torna agora, em Cristo, plenitude da Palavra, a coroa. No fim da obra da Criação, Deus descansa. Assim Cristo também o faz no Sábado Santo, após a obra da Salvação, descansa no sono da morte.
            Diante dos nossos dias de sombras, trevas, tempos que parecem ser o fim, a espiritualidade do Sábado Santo nos ensina que à partir de Cristo, aquilo pode ser um novo começo. Nesses momentos somos chamados a provar a nossa fidelidade e confiança total ao Senhor, e assim descobriremos que Ele não se ausenta nunca de nossa história, mas a tudo dá Nova Vida e Sentido e cria Novo Horizonte com a Ressurreição.
            Assim como depois da tempestade raia o sol mais bonito, depois do choro o sorriso verdadeiro, também depois do Silêncio ressoa a Palavra mais profunda, mais repleta de valor. Quem sabe se silenciar em Cristo, fala com vida, fala de essência, fala de plenitude e sabe o que de fato importa e Quem realmente pode lhe dar a salvação, que não é obra nossa, precisa de nossa participação amorosa e fiel, mas é o Pai, por meio de Cristo, no Espírito, que nos salva.

(Frei Túlio Freitas, OFM – Assistente Espiritual Nacional JUFRA do Brasil)